segunda-feira, março 28, 2005

Gray like the day

Devia estar contente e não estou...
Devia estar agitada e não estou...
Devia estar irrequieta e não estou...
Estou na fronteira entre o preto e o branco, calma, indiferente, nostálgica, melancólica, triste.

Há dias assim...

terça-feira, março 22, 2005

Porquê?

Há certas coisas para as quais não consigo encontrar explicação. Pelo menos, assim, de imediato. Por isso, inevitavelmente, fico a pensar nisso.

Hoje, por exemplo, vinha no metro, numa dessas viagens rotineiras a caminho do trabalho, quando fui apanhada de surpresa. Estava a ler e comecei a ouvir uma música graciosamente tocada por um acórdeão e a ver a inerente criança que se passeia pelos vagões do comboio à espera de que naquela tina que transporta nas suas duas mãos pequenas (sim, porque uma não será suficiente para a agarrar) alguém tenha a coragem necessária de o olhar nos olhos e deixe transparecer caridade, com o acto de meter uma moeda dentro da respectiva.

Até aqui não se percebe qual é a surpresa desta situação. É que todos nós experienciamos este tipo de momentos nas mais variadas alturas do dia, seja de manhã quando saímos de casa, seja à hora de almoço ou mesmo à hora de regresso. E o facto de ser uma criança também não choca ( no sentido de anormalidade da situação), pois não? Qual será a minha surpresa?

Quem tocava o acórdeão era um rapaz novo, na casa dos 24-25 anos, talvez! E agora esta minha afirmação poderá não ser muito correcta do ponto de vista ético, mas não é feita com sentido pejorativo, apenas de constatação: o rapaz não era de etnia cigana. A maior parte destas pessoas que vemos pedir no metro ou são cegos ou são ciganos. Devem lembrar-se da imagem de uma criança também a tocar acórdeão com um cão pequenino que segura a tina de que há pouco falei na sua boca.

Isto para dizer que fiquei, de facto, surpresa com a minha surpresa. Porque quando são velhotes, o caso é mais grave pela impotência consequente de dar solução às coisas e tudo se tornar num ciclo vicioso sendo que o princípio é o facto de não conseguirem arranjar emprego.

Pois é, mas este rapaz seria um bom potencial trabalhador. Contudo, ao vê-lo a tocar acórdeão no metro a pedir esmola não deixei de ficar surpreendida e de me sentir transtornada com a situação.

A conclusão a que chego é que só pode ter sido pela anormalidade. Tudo o que não é normal retem-nos a atenção. A partir daí já foi experienciado, já não é novidade...
Quando será que esta anormalidade cativa por mais tempo a nossa atenção, de maneira a que tenhamos tempo de fazer algo?

Contra mim falo...

sexta-feira, março 11, 2005

Põe e dispõe de mim

"Faz um sorriso e anda cá,
a ver no que dá,
põe e dispõe de mim
dança um pouco em silêncio,
pergunta em que penso,
põe e dispõe de mim
e diz ao sol que eu já vou,
mas preza o que eu dou,
põe e dispõe de mim
leva-me as roupas de que gostes,
mas nunca te mostres,
não não,
põe e dispõe de mim
vá muda-me o que eu só não mudo,
acaba com tudo,
põe e dispõe de mim
mas se um dia quiseres ter do teu lado,
um corpo pisado,
põe e dispõe de mim."


in, violentamente.blogspot.com

quarta-feira, março 09, 2005

A eterna discussão sobre quem deve dar o lugar a quem...

Esta atitude racional e inteligente (refiro-me a razões de ordem ambiental e económica) de usar os transportes públicos como meio de deslocação aos afazeres do dia-a-dia tem muita coisa que se lhe diga.

Há rapidez, há sim senhora, especialmente nas horas da libertação do stress acumulado, isto é, quando o meu povo português (e agora apetece-me gritar bem alto o nome do meu país: LAVRADIO!!!!) sai dos ricos trabalhitos e vai para casa. Isto apenas para quem utiliza o metro, claro!!!! (Ehpah, é que se o pessoal não diz as coisas todas como deve dizer ainda se arrisca a ouvir: "Ah e tal e coiso, atão mas esta parva não sabe que os autocarros também têm rodas, andam na estrada e não voam?" Por isso, meus amigos, é como vos digo: mais vale dizer muita coisa, do que dizer meia dúzia e ser mal interpretado!!! ou não...)

E há novidade!!!! Sim, novidade. Se há coisa que não nos podemos queixar é da monotonia do quotidiano passado nesta realidade pública. Passo a explicar: é que todos os dias existe a possibilidade de verificar qual a situação mais bizarra vivida ou presenciada nos transportes públicos.

Pois claro que também há aquelas situações que são mais que normais, que o pessoal já nem liga - falo da eterna discussão da cedência dos lugares. A par das situações mais insólitas que possam acontecer (e depois estranham o aumento da venda de antidepressivos... exprimentem a andar de autocarro todos os dias, que até era capaz de se arranjar uma fatia do bolo das explicações para tal fenómeno) há invariavelmente dia sim, dia sim, o acontecimento já mais que caracterizado da velhota que entra no autocarro e ninguém se levanta para dar o lugar.

É que mete dó... pessoas que mal se conseguem aguentar nas pernas a olhar com clemência para as pessoas sentadas e... nada!!!!
Pois, é verdade.

O pessoal que está em pé não pode ceder o lugar!
Mas, curiosamente, são sempre os chicos espertos que estão sentados que dizem que a pessoa que está sentada lá à frente é que devia dar o lugar: "É que já viu, então, é uma vergonha!!!! É uma vergonha! Esta gente nova! São pessoas novas, não se levantam..."

Mais curioso é que o senhor ou senhora que, por acaso, tende a inserir-se na camada mais velha da população (porque na realidade nem é velho/a), continua sentado/a a mandar vir só porque o senhor ou a senhora que está sentado/a no banco posicionado mais à frente no autocarro não se levantou!
Sim, porque aquelas pessoas é que têm uma verdadeira obrigação de se levantar... Atão, tá lá a plaquetazinha a dizer que sim. Porque as outras pessoas sentadas nos outros lugares não têm!!!!!

Bem, isto tudo para expressar a minha quase incontida vontade de dizer:
"Ó Homem, levante-se você!!!"

Pode ser que um dia destes venha a escrever as consequências desta minha frase maravilhosa, por ora contida, dita num momento de exaltação, como o que descrevi acima.

quinta-feira, março 03, 2005

Sinnerman

Sinnerman where you gunna run to
Sinnerman where you gunna run to
Where you gunna run to
All on that day

Well I run to the rock
Please hide me
I run to the rock
Please hide me
I run to the rock

Please hide me lord
All on that day
Well the rock cried out
I can’t hide you the rock cried out
I can’t hide you the rock cried out
I ain’t gunna hide you god
All on that day

I said rock what’s a matter with you rock
Don’t you see I need you rock
Don’t let down
All on that day

So I run to the river
It was bleedin
I run to the sea
It was bleedin
I run to the sea
It was bleedin all on that day

So I run to the river it was boilin
I run to the sea it was boilin
I run to the sea it was boilin
All on that day

So I run to the lord
Please help me lord
Don’t you see me prayin
Don’t you see me down here prayin

But the lord said
Go to the devil
The lord said
Go to the devil
He said go to the devil
All on that day

So I ran to the devil
He was waiting
I ran to the devil
he was waiting
I ran to the devil
he was waiting
All on that day

Oh yeah
Oh I run to the river
It was boilin
I run to the sea
It was boilin
I run to the sea
It was boilin all on that day

So I ran to the lord
I said lord hide me
Please hide me
Please help me
All on that day

Said God where were you
When you are old and prayin
Lord, lord hear me prayin
Lord lord hear me prayin
Lord lord hear me prayin
All on that day

Sinnerman you oughta be prayin
Oughta be prayin sinnerman
Oughta be prayin all on that day


Nina Simone

Há lá coisa melhor...

...do que dar valor às pequenas coisas da vida que nos fazem sentir bem e reconfortados na altura certa?

Há lá coisa melhor do que dormir numa cama acabada de fazer com os lençóis ainda a cheirar ao amaciador da roupa, do que beber um cacau quente e aquecer as mãos na chávena quando está um frio de rachar lá fora, do que ficar em casa, no sofá, debaixo dos cobertores com o aquecedor ligado a ver televisão num daqueles dias em que é suposto estar a trabalhar e, por algum motivo, assim não acontece, do que ver um pôr-do-sol na praia, do que comer uns belos de uns caracóis ainda com sal no pêlo, do que beber um copo de vinho tinto no final de uma semana de trabalho (pra quem gosta, claro!!!!), do que passar uma noite ou uma tarde na conversa com um amigo que não se vê há muito tempo?

Há lá coisa melhor? Porque se não houver tempo para apreciar estes pequenos "peanuts", tudo o resto não faz muito sentido, pois não?