terça-feira, março 22, 2005

Porquê?

Há certas coisas para as quais não consigo encontrar explicação. Pelo menos, assim, de imediato. Por isso, inevitavelmente, fico a pensar nisso.

Hoje, por exemplo, vinha no metro, numa dessas viagens rotineiras a caminho do trabalho, quando fui apanhada de surpresa. Estava a ler e comecei a ouvir uma música graciosamente tocada por um acórdeão e a ver a inerente criança que se passeia pelos vagões do comboio à espera de que naquela tina que transporta nas suas duas mãos pequenas (sim, porque uma não será suficiente para a agarrar) alguém tenha a coragem necessária de o olhar nos olhos e deixe transparecer caridade, com o acto de meter uma moeda dentro da respectiva.

Até aqui não se percebe qual é a surpresa desta situação. É que todos nós experienciamos este tipo de momentos nas mais variadas alturas do dia, seja de manhã quando saímos de casa, seja à hora de almoço ou mesmo à hora de regresso. E o facto de ser uma criança também não choca ( no sentido de anormalidade da situação), pois não? Qual será a minha surpresa?

Quem tocava o acórdeão era um rapaz novo, na casa dos 24-25 anos, talvez! E agora esta minha afirmação poderá não ser muito correcta do ponto de vista ético, mas não é feita com sentido pejorativo, apenas de constatação: o rapaz não era de etnia cigana. A maior parte destas pessoas que vemos pedir no metro ou são cegos ou são ciganos. Devem lembrar-se da imagem de uma criança também a tocar acórdeão com um cão pequenino que segura a tina de que há pouco falei na sua boca.

Isto para dizer que fiquei, de facto, surpresa com a minha surpresa. Porque quando são velhotes, o caso é mais grave pela impotência consequente de dar solução às coisas e tudo se tornar num ciclo vicioso sendo que o princípio é o facto de não conseguirem arranjar emprego.

Pois é, mas este rapaz seria um bom potencial trabalhador. Contudo, ao vê-lo a tocar acórdeão no metro a pedir esmola não deixei de ficar surpreendida e de me sentir transtornada com a situação.

A conclusão a que chego é que só pode ter sido pela anormalidade. Tudo o que não é normal retem-nos a atenção. A partir daí já foi experienciado, já não é novidade...
Quando será que esta anormalidade cativa por mais tempo a nossa atenção, de maneira a que tenhamos tempo de fazer algo?

Contra mim falo...