segunda-feira, novembro 21, 2005

Frio, sono e tristeza


Baixo o metabolismo e durmo.
Durmo.
Durmo na tentativa de escapar ao abismo a que sou conduzida quando estou acordada. Ao abismo dos meus pensamentos.
Recuso-me enfrentar os demónios e seres mirabolantes que ocupam a minha cabeça. Fecho a luz, fico no escuro, mas curiosamente, nem a dormir me abandonam, porque acordo todos os dias como se tivesse passado para outra dimensão e nela lutasse com todas as minhas forças, coisa que não faço na realidade consciente.

Acordo.
Cansada.
Queria que a noite se prolongasse eternamente e eu continuasse a dormir.
A hibernar.
Longe do frio, longe da tristeza, num estado de completa ausência de sentimentos.

Baixo novamente o metabolismo e aqui vou eu para o frio, para o limbo da dormência dos sentidos.

A minha visão está turva.
Os ouvidos não ouvem.
Tacteio em vão, porque não encontro nada.
Cheiro a terra molhada e não encontro a esperança do cheiro da primavera.
Sinto o sabor daquilo que me faz ter forças para continuar físicamente.

E é o pó dos dias.
Dos dias que passam, inevitavelmente.
Eu?
Eu vou passando por eles, com a lentidão de uma criança que aprende a andar de bicicleta.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Protection


"This girl I know needs some shelter
She don't believe anyone can help her
She's doing so much harm, doing so much damage
But you don't want to get involved
You tell her she can manage
And you can't change the way she feels
But you could put your arms around her

I know you want to live yourself
But could you forgive yourself
If you left her just the way
You found her

I stand in front of you
I'll take the force of the blow
Protection

I stand in front of you
I'll take the force of the blow
Protection

You're a boy and i'm a girl
But you know you can lean on me
And I don't have no fear
I'll take on any man here
Who says that's not the way it should be

I stand in front of you
I'll take the force of the blow
Protection

I stand in front of you
I'll take the force of the blow
Protection

She's a girl and you're a boy
Sometimes you look so small, look so small
You've got a baby of your own
When your baby's grown, she'll be the one
To catch you when you fall

I stand in front of you
I'll take the force of the blow
Protection

I stand in front of you
I'll take the force of the blow
Protection

You're a girl and i'm a boy

Sometimes you look so small, need some shelter
Just runnin round and round, helter skelter
And I lean on your fears
Now you can lean on me
An that's more than love
That's the way It should be
Now I can't change the way you feel
But I can put my arms around you
That's just part of the deal
That's the way i feel
I put my arms around you

I stand in front of you
I'll take the force of the blow
Protection

I stand in front of you
I'll take the force of the blow
Protection

You're a boy and i'm a girl"

Massive Attack, Protection

terça-feira, novembro 15, 2005

O Rio Tejo



Todos os dias atravesso o rio e todos os dias consigo descobrir algo de novo se estiver com atenção. Hoje, por exemplo, estava sereno. Tão sereno que as margens se fundiam completamente nele, só se percebendo que mais adiante era terra pela existência de prédios.

Acho também curioso a cor. Nunca tem a mesma cor. O céu estava cinzento, mas o rio era verde água (e agora consigo ter ideia da cor verde água - não fosse a panóplia de cores e adjectivos que lhes acrescentam à frente, quase tentada a partilhar da opinião que cores à séria são as sete do arco-íris).



Já o vi cinzento, cor de prata (pela incidência dos reflexos do sol), verde escuro, mas nunca lhe consigo ficar indiferente, pela calma que transmite, seja qual for a sua cor. É por isso que às vezes fecho o meu livro e fico apenas a olhar para ele e para as gaivotas que voam paralelamente e tentam acompanhar a velocidade do barco, mas que, num ápice, desistem tomando outro rumo determinado pela lufada de vento que se faz sentir no momento.

Subitamente, o barco atraca no cais e segue-se um dia igual aos outros todos - igual se não reparármos que nada pára, que nada à nossa volta fica igual com o passar do tempo, que há certas coisas, por mais usuais e costumeiras que sejam na nossa vida, são sempre diferentes, mas apenas se tivermos disponibilidade para lhes dar a atenção merecida.

domingo, novembro 06, 2005

15 minutos

À hora que começo a escrever este texto faltam 15 minutos para nascer há 25 anos atrás.

Sempre achei que se algum dia ao longo da minha vida escrevesse um livro, a página inicial das dedicatórias seria muito simples, agradecendo aos meus pais, aos meus avós maternos e paternos, ao meu tio e a todas as pessoas que passam e ficam na minha vida. Porquê? Porque foi com a ajuda deles que formei o meu carácter e sou aquilo que sou hoje. Disso não tenho a menor dúvida.

Quanto às outras dúvidas, essas hão-de persistir, mas ainda é muito cedo para vê-las todas satisfeitas.

À hora que acabo de o escrever continuam a faltar 5 minutos para nascer há 25 anos atrás.