terça-feira, julho 10, 2007

Retalhos da vida de um médico, assim lhe chamou Fernando Namora, livro que li aquando do meu 11º ano, julgo eu, se a minha memória não me falha, coisa que com o passar dos tempos, já não me faz "meter as mãos no lume" - é uma coisa terrível, esta da velhice.

Nada tem a ver com as palavras que por ora aqui vão desfilando aos olhos de quem as poderá ler. Retalhos da vida de um médico, porque pensei simplesmente em retalhos da vida, o "médico" veio por associação de ideias.

São 18h37m deste dia, devia estar a trabalhar, mas não me apetece, falta-me cumprir um item apontado na minha agenda (a maldita memória!), mas estipulei que hoje deveria começar "a trabalhar nisso", não "acabar" a tal coisa, por isso, permito-me esta margem de liberdade e em vez de estar a pensar "à séria", estou aqui apenas a escrever o que apetece. Decidi que podia dar-me a este pequeno luxo. "Amanhã é outro dia" e já dizia o Variações que "é para amanhã o que não podes fazer hoje", ao que acrescentei "desculpabilizantemente" "queres fazer hoje".

Fico aqui às voltas, quieta, mas às voltas, acordada a passear por caminhos tão longínquos que vou entrando noutro mundo sem realmente perceber que já lá tinha entrado despercebidamente. O que eu queria realmente saber, nas alturas em que a vida me parece uma rotina e desanimo e fico sem força para acreditar no futuro, é se será sempre assim. Se temos altos e baixos, momentos excitantes que se perdem no tempo, até ao próximo ainda mais excitante. O primeiro dia de escola, o primeiro dia quando se muda para outra escola, o primeiro dia na escola dos adultos, a faculdade, o primeiro beijo, o primeiro namorado, a primeira relação sexual, o namorado seguinte e a primeira constatação de diferença, a primeira casa, o primeiro casamento (quiçá não o único), o primeiro filho, o primeiro neto, a reforma, a morte.

Nos entretantos, entretemo-nos com a roupa xpto, a casa com vista directa para o mar, as férias em todo o mundo, tentamos manter-nos em forma, alimentamo-nos bem, deixamos de fumar, vamos ao ginásio, vamos à praia no verão e ver as coisas bonitas da natureza.

E, às vezes, tudo isto é rotina. Cada minuto que passa é um minuto a mais na existência de cada um de nós, não volta atrás, mas "amanhã é outro dia", quiçá igual ao de hoje. A importância que este minuto assume hoje é relativa, porque amanhã provavelmente estarei sentada no mesmo sítio, a olhar para o écran, provavelmente a acabar o trabalho que tinha determinado começar hoje e não sequer pensar que todos os dias que passam, assim passou a minha vida, porque "é para amanhã o que não pude fazer hoje." Amanhã ainda estarei cá.