quinta-feira, janeiro 27, 2005

O formare... Vejam alguns dos resultados!

Ao abrir a minha caixa de correio hoje apareceu-me uma mensagem curiosa, mas não de todo insólita (pelo menos para mim). Uma mensagem sobre um duelo de titãs virtual, conseguido apenas graças ao esforço de actualização da Ordem dos Advogados para acompanhar a era da tecnologia de informação, um instrumento a que, graciosamente, chamaram "formare".

Pois bem, quando digo que não me choca digo-o porque as criaturas em questão, que muito se orgulham, e inclusivamente positivaram tal conduta no seu código deontológico, do dever especial de urbanidade, na sua essência acabam por ser tão ou tão pouco urbanos quanto o cidadão normal, com uma diferença: o vocabulário.

Ora vejam, se não tenho razão. Aqui se transcreve o fabuloso e interessante diálogo (da perspectiva sociológica, claro!!!) de que se fala.

Então tudo começa assim:

1 º Mensagem:
Exmos Colegas:
Gostaria de saber se alguém me pode disponibilizar uma minuta de interposição de recurso da nota do exame? Cordiais cumprimentos, IF - Estagiaria

1ºResposta:
A Exma Colega fará o favor de explicar como é que pretende ser advogada por sua conta e risco se precisa de copiar uma interposição de recurso. A cabeça serve para quê? Pense no que quer e escreva. TAA - Formadora

2º Mensagem:
Ex.ma Colega:
Destrate os termos impróprios da sua mensagem, os quais vou ignorar, devo informá-la de que a secretaria do CDL disponibiliza uma minuta, mas ao que parece é a colega que não usa a cabeça, minuta é tão somente a folha que serve de capa ao recurso dirigida ao Presidente do CDL, mas é um formalismo exigido para a interposição de recurso. Não pensava com toda a certeza que existiam minutas para cada área com o conteúdo e que depois o alterávamos???!!!! Da próxima vez antes de responder a qualquer mensagem use a Dra. a cabeça...e já agora haja com mais correcção e urbanidade que só lhe fica bem. Cordiais cumprimentos, IF

2ºResposta:
Porque com o devido respeito, não é por ser ainda estagiária que esse factor lhe dá o direito de me responder desta forma. Boa sorte para o recurso, que bem precisa... TAA

3º Mensagem:
Dra. Por acaso é raro ir ao CFO. Precisamente, por isso, acredito não ser merecedora da resposta que me deu. Não sabia que era formadora, mas isso é apenas mais uma razão para não responder da maneira como fez, porque para mim isso é tão-somente, um desincentivo a ir a esta sala. Muito obrigada pela boa sorte desejada para o recurso, no entanto não é dela que preciso mas sim, de uma correcção justa e coerente. Se de alguma forma se sentiu ofendida com a minha mensagem apresento-lhe as minhas humildes desculpas. IF

3ºResposta:
Não apresente desculpas quando acha, como achou, que tem razão. Seja coerente. Os seus Clientes vão precisar disso. Mais uma vez, boa sorte. TAA

4º Mensagem:
Dra. Reitero a posição adoptada. Pedi-lhe desculpa pela forma como lhe respondi e não pelo conteúdo. Surgiu-me uma dúvida relativamente ao "bem precisa", foi ver os meus exames? É só um palpite? Ou anteviu a decisão final do meu recurso? Está a ver Dra Teresa porque é que não venho mais a esta sala! Cordiais cumprimentos IF.

4ºResposta:
O "bem precisa" refere-se ao uso de minutas, como é evidente. O uso de minutas ou formulários nos exames costuma levar a resultados desastrosos, e eu acho que se usou minutas nos exames a "coisa" pode ter corrido mal. Daí o desejo de boa sorte, como quem diz: se usou minutas para os exames tal como as quer agora para fazer o recurso então só por sorte é que tem boa nota, porque a justeza da correcção não está em causa e não me passa pela cabeça que esteja a duvidar dos critérios de correcção do formadores, seja quem for que corrigiu e seja quem for que o vai rever. E não, não vejo porque é que não vem a esta sala do CFO. TAA

5º Mensagem:
Dra. Não que deva sequer dizê-lo, mas não, não usei minutas para o exame. Creio ter -me explicado mal quanto à minuta de recurso, a minuta de recurso a que me refiro é uma folha A4 que está disponível na secretaria do CDL e que deve ser preenchida com alguns dados para ser anexada ao recurso em si. Se me enviassem por e-mail escusava de me deslocar à secretaria e transcrevia-a para anexar ao recurso. Quanto ao conceito de boa nota o mesmo é relativo. Por acaso tive uma nota de que muito me orgulho (13,25v) e não duvido dos critérios de correcção dos formadores, mas lapsos acontecem! IF

Drª, ....... Oiça!!!!

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Hoje não me apeteceu ler...

Bom dia!


Vinha eu a caminho do trabalho, percorrendo o mesmo trajecto de sempre até chegar ao dito cujo, utilizando os mais variados meios de comunicação (desde os terrestres aos fluviais), quando dei por mim a pensar na comida, no seu sentido literal e consequentes efeitos estéticos.

E aqui a superficialidade de ainda não ter explicado a que propósito surgiu isto, poderia levar alguém a pensar: "Claro, todas as gajas se preocupam com isso! Têm sempre a mania que estão gordas e por isso pensam em comida, naquilo que podem ou não comer!" para concluir que "Naturalmente, pensam em comida!".

Mas não, de facto foi e não foi neste âmbito que isto me veio à cabeça.

Eu explico: todos os dias costumo passar os 15/20 minutos do percurso do barco [que, diga-se de passagem e há que fazê-lo com frontalidade, porque não devemos só criticar mas também elogiar, é um belíssimo barco, com tudo a que temos direito: rapidez, conforto e segurança(será?).] que liga o Barreiro a Lisboa a ler.

Este hábito é um velho hábito porque, para quem não sabe, os antigos barcos demoravam um fantástico período de 30/35 minutos a fazer o mesmo percurso. Ora, o que é que se fazia durante este tempo? Lia-se, fumava-se um cigarrinho na varanda, enquanto se apreciava o rio, ou mesmo no bar a acompanhar o café... Felizmente ou infelizmente, com a chegada dos velozes barcos, foi-se o contacto com o ar livre e com o fumo do tabaco. Bom, mas há sempre vantagens e desvantagens...

Acontece que hoje não me apeteceu ler. Há dias assim. Em vez da tão acostumada leitura, hoje decidi passar a viagem a desfrutar da paisagem. Não em completa sintonia e fusão com o meio ambiente, porque já não existem as supra referidas varandas, mas lá dentro, no quentinho. De qualquer forma adianto já que mesmo que as houvesse, hoje não era um bom dia para isso, que está um frio de rachar tudo...
Ia eu a meio do rio Tejo quando Cacilhas começou a querer fazer parte do retrato. A minha visão imaginativa aliada à minha miopia (sim, porque, naturalmente, se não vinha a ler não pus os óculos) fizeram-me lembrar o Brasil. E porquê o Brasil, perguntam vocês. O que é que o Brasil tem a ver com Cacilhas? Ora bem, nada. Mas eu já referi que não tinha os óculos e de facto, quando se começa a avistar Cacilhas, deparamo-nos com vegetação. Visto de cima, o Brasil é todo ele muito verde. E aqui refiro-me apenas à parte nordestina que é onde estive e só aquela que conheço.

Continuo nesta engrenagem e o que é que vem no seguimento? Cacilhas, verde, Brasil, clima quente.

Pois é, e agora é que é! No Verão existe uma exacerbada preocupação em manter os corpos esbeltos, pois que os mesmos são consciente ou inconscientemente exibidos em locais públicos ou em bens do domínio público.
O pessoal faz ginástica, faz dieta e bebe muita água. As dietas são muitas vezes rigorosas a ponto de eliminar qualquer pequeno pecado alimentício.

O que me fez pensar que se o nosso país tivesse um clima quente todo ano, andaríamos sempre preocupados com o físico e, por conseguinte, não poderíamos cometer o tal pecado e comer todas as coisas boas, com a desculpa de que as vestes quentes, pesadas e mais largas esconderiam os quilos a mais ganhos nesta altura do ano.

Concluindo no sentido de que "Ainda bem que há Inverno!".

Equilíbrio acima de tudo...

Abracinho


terça-feira, janeiro 25, 2005

Sobre o curso de Direito...Há coisas que nunca mudam.

A enfiteuse e o fideicomisso, Crónica de Pedro Mexia in Grande Reportagem

"Uma amiga de longa data pediu-me que lhe corrigisse as vírgulas na Tese de doutoramento. Com certeza que sim. Atirei-me, pois, às vírgulas.

Mas confesso que não estava preparado. É que a tese - não sei como dizer isto - debruça-se sobre a problemática da cessão dos créditos.

Confortavelmente esticado na minha caminha, de lápis na mão, dei por mim teletransportado ou, se preferirem, transplantado para a década de noventa do século passado. Essa tarde recordou-me outras tardes, árduas e infindáveis, há 12 ou 13 anos. Era, nessa época, aluno do curso de Direito.

Saquei o canudo em 1995. E, depois disso, tenho mantido o silêncio.

Mas agora, passado o período de nojo, aproveito para deixar aos meus leitores dois ou três avisos sobre o dito curso. Pois bem: trata-se da mais inconcebível, árida, macilenta e desprezível das criações humanas. Reparem que nem sequer me refiro ao Direito propriamente dito: sobre essa matéria a conivência dos juristas com tiranias sortidas e as obras completas do Kafka chegam e sobram.
Quero agora evocar apenas o curso, aqules cinco penosos anos de colónia penal. Convém aliás explicar que o curso de Direito tem cinco anos não por exigências curriculares mas como forma de homenagem aos planos quinquenais soviéticos. A lógica de opressão, de dirigismo e de extermínio é a mesmíssima. Não vou agora aqui sumariar a minha experiência estudantil, a qual, aliás, foi aprazível a princípio e se tornou depois indiferente.

Mas recordo-me bem do momento de viragem. Em pleno terceiro ano, o meu descontentamento veio ao de cima violentamente, como um almoço mal digerido.

Estava numa aula de Direitos Reais. Estava aborrecido. Estava com sono. Escrevinhava coisas num caderno. E em cima do estrado, o monocórdico mestre dissertava sobre a «servidão de estilicídio». Eu explico: trata-se de garantir escoamento das águas quando um prédio vizinho não está a mais de cinco decímetros do outro. A minha vaga insatisfação com o curso tornou-se, nesse segundo, algo de muito mais agudo, como uma úlcera que rebenta. Eu não sabia o que queria fazer da minha vida; mas não era certamente estudar o escoamento de águas e a distância entre os prédios. Que se lixasse o estilicídio.

Eu queria distância era do curso. Porque essa era a nossa faina. Engolíamos, como óleo de rícino, noções assim intragáveis durante dez infindáveis semestres.

Não apenas a acção de despejo, o IRS ou a recorribilidade do acto administrativo, assuntos minimamente perceptíveis, mas muitas e muitas bizarrias. A Constituição da Costa Rica. O inadimplemento culposo. A impugnação pauliana. A venda a retro. A ineptidão da petição inicial. As prescrições presuntivas. A substituição quase-pupilar. O fideicomisso. O anatocismo. A enfiteuse. Os vícios redibitórios. Os impedimentos dirimentes relativos. O contrato sinalagmático. O registo das sociedades em comandita. O benefício da excussão. E, claro, a cessão de créditos. É preciso ter um interesse desmesurado acerca das regras que regulam uma sociedade, em todos os seus nauseabundos detalhes, para estudar estas salgalhadas. E para aguentar os infindáveis casos entre o "senhor A" e o "senhor B", que vendiam um ao outro casas, se processavam, pediam licenças de uso e porte de arma, deixavam violas de gamba em usufruto, e por aí em diante. Por vezes iam mais longe: o usufruto era em Amesterdão, a arma de Poiares da Beira, o processo na Califórnia e a casa nas Comores.

Quid juris?, perguntavam, sacanas, os lentes. Não sabíamos nem queríamos saber.

Por esta altura, todos nós queríamos mais era que o senhor A e o senhor B se quilhassem. Manhãs e tardes a fio assisti a isto. Noites e noites a fio estudei isto. Vou ter olheiras para sempre por causa disto. Arruinei a minha caligrafia por causa disto. Sofri horrores de nervos e bexiga por causa disto. Aguentei o prof. Soares Martinez por causa disto. Comprei e sublinhei de capa a capa catrapázios de setecentas páginas sobre a pensão de alimentos por causa disto.

Por isso vos digo, ó finalistas do liceu: não se metam nisso.

Parafraseando Jaques Séguéla, diria que há actividades bem mais decentes. Como pianista num bordel."

quarta-feira, janeiro 19, 2005

À deriva...

Queria que este meu pensamento fosse uma coisa bonita, cheia de interesse, entusiasmo, mas principalmente, que soasse bem! Para que todos ficassem impressionados e pensassem: "eh pah, esta gaja até escreve bem!".

Contudo, tenho um prazo a terminar e, por isso, a minha cabeça hoje não está para grandes pensamentos. Parece que vou ter de deixar a coisa para outro dia.

Ainda assim, achei que era importante dizer isto!

Até outro dia...


À deriva...