quarta-feira, abril 06, 2005

Experiência

"Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei
brincando com vela.
Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto,
já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista.
Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora.
Já passei trote por telefone.
Já tomei banho de chuva e acabei me viciando.
Já roubei beijo.

Já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo
desconhecido.
Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro,
já me cortei fazendo a barba apressado,
já chorei ouvindo música no ônibus.

Já tentei esquecer algumas pessoas, mas
descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer.
Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas,
já subi em árvore pra roubar fruta,
já caí da escada de bunda.
Já fiz juras eternas,
já escrevi no muro da escola,
já chorei sentado no chão do banheiro,
já fugi de casa pra sempre e voltei no outro instante.
Já corri pra não deixar alguém chorando,
já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta
de uma só.
Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado,
já me joguei na piscina sem vontade de voltar,
já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios,
já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.

Já senti medo do escuro,
já tremi de nervoso,
já quase morri de amor,
mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.
Já apostei em correr descalço na rua,
já gritei de felicidade,
já roubei rosas num enorme jardim.

Já me apaixonei e achei que era para sempre,
mas sempre era um "para sempre" pela metade.

Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol,
já chorei por ver amigos partindo,
mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um
ir e vir sem razão.

Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção,
guardados num baú, chamado coração.

E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: "- Qual
sua experiência?".

Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência... experiência.. Será
que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência?
Não!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!
Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta: Experiência? Quem a tem, se a todo momento tudo se renova? "

sexta-feira, abril 01, 2005

Impotência

Gostava de conseguir exprimir o que vai cá dentro.
Queria, com palavras, resolver as situações mais complicadas com que me defronto desde sempre.
Queria conseguir transmitir força e energia e coragem.
Queria que a mudança não fosse uma barreira intransponível.
Queria não sentir os problemas como meus.
Quero arrumar o compartimento de há muito desarrumado que me faz ficar triste, desapontada, confusa, irada, frustrada e impotente, mas nunca indiferente.
Queria conseguir transmitir amor.
Mas, apesar de reconhecê-lo parte importante do processo, não o creio suficiente. Continua a faltar a outra parte. Parte esta que nem eu, nem ninguém poderá substituir.

Quero ter força.
O que for, virá.