Frio, sono e tristeza
Baixo o metabolismo e durmo.
Durmo.
Durmo na tentativa de escapar ao abismo a que sou conduzida quando estou acordada. Ao abismo dos meus pensamentos.
Recuso-me enfrentar os demónios e seres mirabolantes que ocupam a minha cabeça. Fecho a luz, fico no escuro, mas curiosamente, nem a dormir me abandonam, porque acordo todos os dias como se tivesse passado para outra dimensão e nela lutasse com todas as minhas forças, coisa que não faço na realidade consciente.
Acordo.
Cansada.
Queria que a noite se prolongasse eternamente e eu continuasse a dormir.
A hibernar.
Longe do frio, longe da tristeza, num estado de completa ausência de sentimentos.
Baixo novamente o metabolismo e aqui vou eu para o frio, para o limbo da dormência dos sentidos.
A minha visão está turva.
Os ouvidos não ouvem.
Tacteio em vão, porque não encontro nada.
Cheiro a terra molhada e não encontro a esperança do cheiro da primavera.
Sinto o sabor daquilo que me faz ter forças para continuar físicamente.
E é o pó dos dias.
Dos dias que passam, inevitavelmente.
Eu?
Eu vou passando por eles, com a lentidão de uma criança que aprende a andar de bicicleta.