sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Morre lentamente

"Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destroi o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
quem não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem quer o preto no branco
e os pontos sobre os "is",
em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
o sorriso dos bocejos, os corações dos tropeços e dos sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
quem não pergunta sobre um assunto que desconhece,
ou não responde quando o indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples acto de respirar.

Somente a preserverança fará que conquistemos
um estágio explendido de felicidade."


Pablo Neruda