segunda-feira, outubro 10, 2005

Limitações


Acho que não merece a pena perder o meu tempo a dizer seja lá o que for sobre o resultado eleitoral de ontem - refiro-me aos casos flagrantes que todos nós conhecemos e que é despiciendo recordar. Tenho a sensação que nada teria a acrescentar ao que concerteza já foi dito. Pelo menos, assim o espero - é sinal de que ainda existe alguém com consciência.

Adiante. O assunto que me traz aqui tem que ver com uma conversa que tive há pouco com uma amiga. Falávamos sobre a vontade de conhecer o mundo, de quebrar a costumeira rotina a que estamos habituadas e partir em busca do desconhecido, da aventura, apenas de mochila às costas (é claro que quem diz isto, diz uma mala ou duas - não fosse o espírito de "gaja" a falar mais alto).

Parece-me que um Inter-rail seria sempre uma boa opção, para quem quer começar nestas lides e, para além disso, há sempre a ideia reconfortante (caso não se goste) de que são só umas férias que depressa chegam ao fim, trazendo com ele o merecido retorno a casa.

Mas o que discutíamos à séria, no bom sentido, era a possibilidade de fazer voluntariado numa ONG e partir à descoberta de novas formas de viver. De sentir que durante os nossos parcos anos de existência fizemos algo que nos fez sentir bem connosco e que fez bem aos outros.

É preciso coragem. E é preciso coragem porque, em primeiro lugar, não é fácil mudar usos e costumes pessoais, sem que nada de dramático tenha acontecido na nossa vida, que nos leve a tomar uma direcção radicalmente oposta àquela que vinhamos seguindo à largos anos. Claro está que esta é só a minha convicção.

Em segundo lugar porque das duas uma: ou somos completamente despreocupados em relação ao que andamos aqui a fazer, o que nos torna, de certa forma, parasitas da sociedade e dos nossos pais, fundamentalmente, porque nos sustentam, ou então não nos podemos pura e simplesmente dar ao luxo de ir durante "x" tempo para fora e deixar de lado o nosso emprego, a nossa estabilidade monetária, a nossa estabilidade emcional. Convenhamos que nem todos têm um background económico que permita este tipo de experiência enriquecedora.

Justifico assim o nome dado a este texto. É que, de facto, é incrível a quantidade de coisas que deixamos de fazer apenas pela necessidade de segurança económica e tudo o que com ela está relacionado. É extraordinário o número de limitações a que estamos sujeitos sem que às vezes nos apercebamos.

Mas, what the hell, "quem não arrisca, não petisca" e, se não for agora em começo de vida, bem entendido, dificilmente será mais tarde, quando as limitações biológicas começarem a dar sinal.

Valerá a pena esta aparente liberdade que o dinheiro nos dá?

10 Comments:

Blogger pedro said...

Custa sempre abandonar o conforto adquirido, mas por vezes definir um novo rumo à nossa vida, rompendo com a maioria das coisas que temos como certas, faz-nos ver e sentir as coisas de uma maneira diferente... Não quer dizer que esta diferença seja sempre para melhor, mas serão sempre novos sentimentos e situações que exprimentamos...

Nada melhor do que ver um sorriso de uma criança quando nos vê passar na rua, e lhe oferecemos umas bolachas ou um pão, e estamos ali um pouco a conversar com ela...

Decide... mas pensa bem nos teus prós e contras...

1:06 AM  
Blogger Mary Mary said...

Força aí! Sempre quis fazer uma coisa parecida. E tenho que ser honesta, que quando chegam finalmente as tão merecidas férias de Verão, sou egoísta e perco a vontade!
Gostava de ir para Moçambique um dia, pôr um sorriso naquelas crianças que tanto precisam...
Enfim, tens toda a razão... Se não for agora nunca mais poderá ser! Portanto, vai! É sempre uma experiência de vida que nos muda para sempre...

7:08 PM  
Blogger MPR said...

Fazemos as nossas escolhas na vida e, por vezes, não são as mais românticas ou idealistas que são as seleccionadas. Prós e contras? Valer ou não a pena? Cada qual pesa o que lhe é querido e assume as consequências. Desde que seja sem desculpas e sem remorsos... Não precisas ser rica para ser voluntária, precisas querer! Mas isso nada tem a ver com férias, interrail ou malas atrás...

11:15 AM  
Blogger peixinho da horta said...

Creio que me fiz entender mal. De facto, falava sobre esta possibilidade com uma amiga. Não que nesta fase da minha vida pensasse nisso.

Bem sei que o carácter humanitário nada tem que ver com malas, férias ou interrail.

Falava do interrail no sentido do espírito de aventura, que se assemelha um pouco ao espírito que é preciso ter, além de outras motivações, claro, para fazer voluntariado.

Não é preciso ter dinheiro para fazer voluntariado, sem dúvida. Mas as situações de que falo são situações em que uma pessoa já tem um vínculo de emprego e tem a sua vida estruturada de certa forma.

É por isso que afirmo que é necessário um determinado background económico nestes casos.

3:10 PM  
Blogger MPR said...

Mas ter um background económico é querer o melhor de dois mundos. Faço isto enquanto me der na gana mas na verdade não arrisco nada porque tenho tudo prontinho à minha espera quando voltar. A vida é feita de escolhas... que acarretam consequências por vezes complicadas. Aí residem as tuas convicções, o teu modo de viver e o tão falado espírito de aventura.

3:33 PM  
Blogger Mary Mary said...

Dinheiro ou sem dinheiro, o importante no meio disto tudo é o que a pessoa está disposta a fazer! Por uma aventura vamos a todo o lado!
Pensar em voluntariado num país pobre é sempre fantástico, um interail com uma amiga pela Europa fora também. Não importa o destino ou se nunca irá acontecer. Interessa principalmente sonhar e lutar por isso!
Dinheiro? Sim, talvez seja importante mas o principal não é isso. Nunca nada deverá ser por uma questão de dinheiro!

4:15 PM  
Blogger peixinho da horta said...

Não digo que deverá ser uma questão de dinheiro. Digo que nessa escolha, no outro prato da balança estará a estabilidade e segurança que o dinheiro transmite.

5:46 PM  
Blogger MPR said...

Quem leia isto deve pensar que estamos a massacrar o peixinho! A peixinha... quer dizer... peixinho da horta é feijão verde! Bom, adiante, percebo o que queres dizer. Daqui a nada parecia que te iamos saltar à garganta a chamar "Porca capitalista!" :D
Percebo-te, e não é só o dinheiro, é toda uma vida que se tem e se quer desenvolver. Sejam qual forem as escolhas que tomes, desde que não magoes ninguem e sejas feliz... vai em frente! Porque aliás de certeza que muita gente precisa de ti aqui mesmo em Lisboa!

7:58 PM  
Blogger peixinho da horta said...

Começava a achar que sim...:P
Ainda assim, as opiniões são opiniões e valem o que valem...

1:14 PM  
Blogger Mary Mary said...

Íamos? Eu não... Sempre concordei com tudo! :P
Mas tanta discussão que é apenas o local para onde ir e se deve ou não... Safa!
Seja qual for a tua escolha eu apoio-te!!! :)

8:52 PM  

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