terça-feira, janeiro 23, 2007

A minha

Aqui há uns dias fui ver o "Babel" e já tinha lido algumas críticas ao filme. Devo confessar que a que me ficou na retina foi a do Sr. Mário Torres, que abaixo se transcreve. Em bold estão os aspectos dos quais discordo totalmente dele, depois de ter visionado o filme.

“Alejandro González Iñárritu entrou no vocabulário da indústria cinematográfica com o sobrevalorizado "Amor Cão" e reincidiu com um confuso, embora curioso, "20 Gramas"(Certamente devido a lapso, o filme tem o nome de “21 Gramas”). Agora, perfila-se para uma chuva de Óscares com esta "elaborada" narrativa em mosaico, cruzando três histórias (quatro histórias), ligadas entre si, por mais do que óbvios fios ficcionais: um caçador japonês oferece a espingarda ao seu guia marroquino, que a vende a um pastor que, por sua vez, a dá aos filhos para protegerem os rebanhos dos chacais; os "queridos meninos" entretêm-se a disparar contra um autocarro de turistas e atingem uma americana (Cate Blanchett, para dar a necessária caução estelar) (não é suposto ser assim quando as personagens são fulcrais na história? Qual é o choque? Somos habituados a que todos os filmes tenham sempre alguma estrela de Hollywood.), em viagem de reconciliação (nunca se percebe bem) com o marido (Brad Pitt, em mais um "papel de embrulho" luxuoso) (o mesmo relativamente a Cate Blanchett), cujos filhos (loiros e "anglos", como convém) (tendo em conta os personagens pais, estranho seria que fossem morenos) estão ao cuidado de uma empregada mexicana, clandestina; esta, porque não tem com quem os deixar, atravessa com eles a fronteira, para assistir ao casamento do filho. No regresso, conduzidos pelo sobrinho da mexicana (pobre Gael Garcia Bernal, para apelar ao mercado hispano falante), têm problemas com a polícia fronteiriça e as adoráveis crianças acabam perdidas no deserto e a dita cuja criada é extraditada. Entretanto, e pelo meio, com montagem paralela, bem denunciada, o caçador japonês (tinham-se esquecido do caçador japonês?), tinha uma filha surda-muda e ninfomaníaca, (devo dizer que este comentário me choca de sobremaneira: para quem já viu o filme e é dotado de alguma sensibilidade, consegue perceber claramente que o que está em causa neste comportamento demonstrado pela filha não é a compulsão em ter sexo, mas é sim demonstrativo de uma falta de afecto emocional. Uma necessidade de chamar à atenção pela falta de outras necessidades que, em última análise, não se identificam com o prazer físico do sexo, culminando em sentimentos de rejeição, o que vem agravar o processo.) filha de uma mãe suicida. As imagens na televisão, relatando o imbróglio internacional, fazem o resto e lançam os três (quatro: a história da japonesa, do casal em reconciliação, da mexicana e dos miúdos que atiram contra o autocarro, são quatro histórias paralelas) episódios, em lentíssima velocidade, a caminho da Babel do título, glosa do mito bíblico e modo de arrumar, no mesmo pacote, os marroquinos terceiro mundistas, os japoneses da sociedade da abundância e da massificação e os mexicanos da diáspora (e não só), que fornecem a componente folclórica das danças e das bodas (muito bem conseguido, devo dizê-lo, consegue-se entrar noutro mundo assim que as personagens passam a fronteira), para além de identificarem Iñarritu com o que dele se espera: o condimento hispânico para apimentar.”

O filme é dotado de várias situações que podem ser analisadas não tão superficialmente quanto o que foi descrito atrás. Sentimentos como a intolerância, o egoísmo, a generosidade, amor incondicional e ainda o de injustiça são exaltados ao longo do decorrer destas quatro histórias. O resultado é um nó na garganta. Fica-se a pensar. Nada de novo nos é apresentado no écran, contudo, vê-las de fora é sempre diferente.

Muito bom, é a minha apreciação.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Quando o Mario Jorge Torres diz que a japonesa é ninfomaniaca, bem pode dizer o que quiser acerca do resto do filme porque, está provado, não percebeu mesmo nada.

2:16 PM  
Blogger John said...

Admito que as críticas iniciais que li sobre o filme não lhe foram nada favoráveis, sobretudo por comparação com as obras anteriores do seu autor, que servem sempre como "standard mínimo" de qualquer pseudo-crítico de cinema. No entanto, depois de ler este post estou finalmente curioso ao ponto de ir ver "Babel" (e não, não é por causa da Japonesa!).

8:52 PM  

Postar um comentário

<< Home