quinta-feira, março 09, 2006

Processo kafkiano


´Quando era pequenina, costumavam doer-me as pernas enquanto dormia, com muita frequência. Preocupada, a minha mãe levou-me ao médico para saber o que se passava. Depois de me examinar, o médico esboçou um sorriso e disse: "-São dores de crescimento. É que crescer dói..." Só mais tarde percebi o verdadeiro significado das suas palavras´

São as mudanças que fazemos na nossa vida e que fazem parte dela, não porque nos são impostas, mas porque queremos, de facto, que elas aconteçam. É o primeiro dia de escola, a seguir o secundário, a faculdade. De repente, temos um emprego, responsabilidades, pagamos as nossas contas, esbanjamos ou poupamos. As regras mudam, a partir de agora somos nós que as fazemos ao sabor do nosso arbítrio, dos nossos objectivos. Cortamos o cordão umbilical, casamos, procriamos, divorciamo-nos... Mudanças voluntárias, mas que nem por isso afastam o período necessário de adaptação. São degraus numa escada que se vão subindo, esperando nunca descer. Porque para subir um degrau dela foi preciso aprender a coordenar a parte motora com a mental. Foi preciso aprender a controlar a ânsia de querer saltar um só degrau que seja, de modo a atenuar o sofrimento. Foi preciso compreender que "Crescer dói" nos mais variados sentidos que esta expressão possa ter.

E será que podemos lamentar a perda de algo que nunca tivémos realmente?

1 Comments:

Blogger MPR said...

Sempre, porque o lamento não é sobre o que nunca tivemos mas sobre o que sonhámos ter...

6:55 PM  

Postar um comentário

<< Home